JOÃO HIGINO FERRAZ Copiadores de Cartas (1898-1937) Governo Regional da Madeira
JOÃO HIGINO FERRAZ Copiadores de Cartas (1898-1937) Governo Regional da Madeira 5 JOÃO HIGINO FERRAZ Copiadores de Cartas (1898-1937) Gov erno Regional da Madeir a COORDENAÇÃO, PREFÁCIO E NOTAS ALBERTO VIEIRA LEITURA, TRANSCRIÇÃO E NOTAS FILIPE DOS SANTOS 6 TÍTULO JOÃO HIGINO FERRAZ. COPIADORES DE CARTAS (1898-1937) 1ª Edição Dezembro de 2005 AUTOR ©ALBERTO VIEIRA FILIPE dos SANTOS EDIÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA DO ATLÂNTICO RUA DOS FERREIROS, 165, 9004-520 FUNCHAL TELEF. 291-229635/FAX: 291-223002 Email: ceha@avieira.net. Webpage: http://www.ceha-madeira.net TIRAGEM 2000 exemplares IMPRESSÃO DEPÓSITO LEGAL ISBN 972-8263-39-2 7 ÍNDICE GERAL INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................9 O AÇÚCAR E A TECNOLOGIA NO ESPAÇO ATLÂNTICO.................................................................11 DAS ORIGENS À MADEIRA...................................................................................................................11 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O AÇÚCAR.......................................................................................13 A QUESTÃO HINTON ..............................................................................................................................17 O HINTON E A INDÚSTRIA DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL ................................................................28 A IMPORTÂNCIA DO ACERVO DOCUMENTAL DE JOÃO HIGINO FERRAZ................................33 JOÃO HIGINO FERRAZ [1863-1946]......................................................................................................39 NOTAS AUTO-BIOGRÁFICAS DE JOÃO HIGINO FERRAZ...............................................................41 CONCLUSÃO.............................................................................................................................................44 A DOCUMENTAÇÃO..............................................................................................................................45 NORMAS DE TRANSCRIÇÃO ................................................................................................................46 COPIADORES DE CARTAS DE JOÃO HIGINO FERRAZ (1898-1937).........................................51 COPIADOR DE CARTAS [1898-1905].....................................................................................................53 COPIADOR DE CARTAS [1905-1913]...................................................................................................115 [COPIADOR DE CARTAS. 1917-1919]..................................................................................................173 [COPIADOR DE CARTAS. 1919-1920]..................................................................................................205 [COPIADOR DE CARTAS. 1920-1923]..................................................................................................223 [COPIADOR DE CARTAS. 1924-1926]..................................................................................................267 [COPIADOR DE CARTAS. 1927-1929]..................................................................................................301 [COPIADOR DE CARTAS. 1929-1930]..................................................................................................333 [COPIADOR DE CARTAS. 1930-1937]..................................................................................................361 CARTAS AVULSAS................................................................................................................................395 ÍNDICE ANALÍTICO DE EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS.........................................................413 8 Fólio 1 - [Copiador de Cartas. 1919-1920] INTRODUÇÃO A publicação do presente volume enquadra-se na política definida pelo CEHA de divulgar e salvaguardar o que de mais significativo temos no nosso património histórico documental, com relevo para as investigações históricas presentes. A aposta na temática açucareira levou-nos a descobrir um espólio privado muito precioso no entendimento da História do Açúcar no século XX na Madeira. Graças ao trabalho meticuloso de João Higino Ferraz hoje é possível saber parte da realidade açucareira da primeira metade do século XX. O conjunto documental assume desusado interesse por ser até ao momento o único conhecido no panorama açucareiro mundial. Daí resultou o empenho na publicação do acervo, composto de cartas e livros de notas. A leitura desta informação, pelo facto de assumir um carácter privado, tem o condão de nos revelar realidades que por vezes a documentação oficial ou os jornais não nos permitem ver nem tão pouco induzir. A partir dela sabemos quais as actuações nos bastidores da política local e nacional no sentido de fazer vingar ou perpetuar certos interesses preferenciais. Por outro lado podemos ainda mergulhar no dia à dia do engenho acompanhando as dificuldades da maquinaria, as análises laboratoriais, em suma a preocupação sempre presente de fazer com que do produto laborado se pudesse retirar o maior rendimento. Neste campo a preocupação com a inovação tecnológica é uma constante. A descoberta deste precioso espólio só se tornou possível graças ao empenho dos familiares de João Higino Ferraz, nomeadamente Francisco Clode Ferraz, que souberam guardar as recordações de um ente querido. Por isso, à família o nosso maior agradecimento pela disponibilidade dos originais e pelas possibilidades abertas quanto à sua divulgação e publicação em livro. Esta será sem dúvida uma das mais justas homenagens que se poderá prestar a um madeirense, que dedicou toda a sua vida a lutar por conseguir que a sua terra estivesse no seio das inovações tecnológicas, que permitiam um maior aproveitamento dos parcos recursos que a ilha é capaz de fornecer. A nossa esperança é a de que, ao mesmo tempo, a publicação dos escritos seja uma forma de reconhecimento por parte da sociedade do labor, craveira intelectual e científica de João Higino Ferraz, cujo nome se mantem esquecido e deverá ser merecedor da homenagem e permanente lembrança por parte de todos nós. A presente publicação enquadra-se dentro de uma das linhas de investigação prioritárias do CEHA, apoiada por outras iniciativas como a criação da Associação Internacional de História e Civilização do Açúcar em 2002 e o projecto Atlântica: o Açúcar e a Cultura nas ilhas Atlânticas [2003-2005], uma iniciativa no âmbito do projecto INTERREG IIIB, da União Europeia, realizado em cooperação com diversas entidades das Canárias. 9 10 Página de rosto de Précis de Chimie Industrielle, de A. Payen (Paris, Librairie de L. Hachette, 1867), onde se vê a assinatura de J. H. Ferraz O AÇÚCAR E A TECNOLOGIA NO ESPAÇO ATLÂNTICO A cana-de-açúcar é de todas as plantas domesticadas pelo Homem aquela que teve mais implicações na História da Humanidade. Até hoje são evidentes as transformações operadas na agricultura, técnica, química e siderurgia, por força da cultura da cana sacarina, beterraba e da produção de açúcar, mel, aguardente, álcool e rum. O percurso multissecular, desde a descoberta remota na Papua (Nova Guiné) há 12.000 anos, evidência esta realidade. A chegada ao Atlântico, no século XV, provocou o maior fenómeno migratório, que foi a escravatura de milhões de africanos, e teve repercussões evidentes na cultura literária, musical e lúdica. Foi também no Atlântico que a cultura atingiu a plena afirmação económica, assumindo uma posição dominante no sistema de trocas. O açúcar é, entre todos os produtos que acompanharam a expansão europeia, o que moldou, com maior relevo, a mundividência quotidiana das novas sociedades e economias que, em muitos casos, se afirmaram como resultado dele. A cana sacarina, pelas especificidades do cultivo, especialização e morosidade do processo de transformação em açúcar, implicou uma vivência particular, assente num específico complexo sócio-cultural da vida e convivência humana. A rota do açúcar, na transmigração do Mediterrâneo para o Atlântico, tem na Madeira a principal escala. Foi na ilha que a planta se adaptou ao novo ecossistema e deu mostras da elevada qualidade e rendibilidade. Deste modo a quem quer que seja que se abalance a uma descoberta dos canaviais e do açúcar, na mais vetusta origem no século XV, tem obrigatoriamente que passar pela ilha. Foi aqui que se definiram os primeiros contornos desta realidade, que teve plena afirmação nas Antilhas e Brasil. A cana-de-açúcar iniciou a expansão atlântica na Madeira. A segunda metade do século XIX foi um dos momentos mais significativos da plena afirmação do açúcar no mercado mundial. A vulgarização do produto fez multiplicar o consumo e obrigou ao aumento da produção e consequente alargamento das áreas produtoras. Para isso foi necessário adequar o processo tecnológico às exigências do mercado, surgindo significativas inovações. A Madeira, que nos séculos XV e XVI havia contribuído para uma revolução no processo de fabrico do açúcar, volta a estar de novo na linha da frente das inovações industriais. Algumas inovações significativas do processo da moenda e fabrico do açúcar ou aguardente tiveram a ilha como palco, por força do engenho e arte de alguns técnicos açucareiros, como foi o caso de João Higino Ferraz. Por força do seu empenho a ilha e de forma especial o engenho em que trabalhava serviram de campo de ensaio para a experimentação das novas técnicas usadas na produção de açúcar a partir da beterraba. DAS ORIGENS À MADEIRA O Açúcar pode muito bem ser considerado uma conquista do mundo islâmico e budista1, tal como o pão e o vinho o são do cristianismo. O factor religioso foi fundamental na afirmação e divulgação do produto, daqui resultará a cada vez maior afirmação a partir dos primeiros séculos da nossa era. A cana sacarina (saccharum officinarum) terá sido domesticada há cerca de 12.000 anos na Papua (Nova Guiné). Entre 1500 AC e 500 DC a cultura espalhou-se pela Polinésia e Melanésia, mas foi na Índia que adquiriu maior importância, expandindo-se entre o século I e VI DC. Foi aí que os europeus tomaram contacto com 11 1 Sucheta Mazumbar, Sugar and Society in China, Londres, 1998, pp.21-27; Christian Daniels, “Agro-Industries: Sugarcane Technology”, in Joseph Needham, Science & Civilisation in China, vol. VI, part. III, Nova Iorque, 1996, pp. 61-62, 278, 192. o produto e cultura, começando o comércio e depois com o transplante da cultura para os vales dos rios Tigre e Eufrates. Aqui, os árabes tiveram conhecimento da cultura e levaram-na consigo para o Egipto, Chipre, Sicília, Marrocos e Valência. Foi no culminar da expansão árabe no Ocidente que a Madeira serviu de trampolim da cultura para o Atlântico, situação que foi o início da fase mais importante da História do açúcar. O açúcar é, entre todos os produtos a que no Ocidente se atribuiu valor comercial, o que foi alvo de maiores inovações no seu fabrico. Note-se que no caso do fabrico do vinho a tecnologia pouco ou nada mudou desde o tempo dos Romanos. Várias condicionantes favoreceram a necessidade de permanente actualização, situação que se tornou mais clara no século XVIII com a concorrência da beterraba. Mesmo assim ainda hoje persistem em alguns recantos do Mundo, na China, Índia ou Brasil, onde a tecnologia da revolução industrial ainda não entrou. O fabrico do açúcar está limitado pela situação e ciclo vegetativo da planta. A cana sacarina tem um período útil de vida em que a percentagem de sacarose era mais elevada. A cana estava pronta para ser colhida e a partir daqui um dia que passasse era uma perda para o produto. Acresce que a cana depois de cortada tem pouco mais de 48 horas para ser moída e cozida, uploads/s1/copiadorescartas.pdf
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- Publié le Apv 22, 2022
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