XIX ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, São Paulo, 2009, pp. 1-25 MODERNIZA
XIX ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, São Paulo, 2009, pp. 1-25 MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E DISPERSÃO DO MEIO TÉCNICO CIENTÍFICO INFORMACIONAL: O SURGIMENTO DE CIDADES FUNCIONAIS AO CAMPO MODERNO NOS FRONTS AGRÍCOLAS MODERNIZACIÓN DE LA AGRICULTURA Y DISPERSIÓN DEL MEIO TÉCNICO CIENTÍFICO INFORMACIONAL: EL APARECIMIENTO DE CIUDADES FUNCIONALES AL CAMPO MODERNO EN LOS FRONTS AGRICOLES Autor: Samuel Frederico Universidade de São Paulo samuelfre@yahoo.com.br Resumo: A difusão da agricultura moderna em áreas de cerrado tem provocado uma nova organização do território brasileiro, pautada, dentre outras características, pelo surgimento de cidades funcionais ao campo moderno. As cidades tornam-se o lócus da realização da produção moderna, pois atendem às demandas do consumo produtivo e também das famílias de migrantes que chegam em grande número. Este artigo se propõe analisar o surgimento das “cidades do agronegócio” nos fronts agrícolas e suas principais características: as novas relações campo-cidade, a dinâmica populacional e do mercado de trabalho e o aprofundamento das desigualdades sócio-espaciais inerentes à modernização do modo de produção capitalista. Palavras-chave: cidades do agronegócio; fronts agrícolas; relação cidade-campo. Resumen: La difusión de la agricultura moderna en áreas del cerrado ha provocado una nueva organización del territorio brasileño, pautada, entre otras características, por el aparecimiento de ciudades funcionales al campo moderno. Las ciudades se convierten en el lócus de la realización de la producción moderna, por lo tanto atendem a las demandas Del consumo productivo y también de las familias de los migrantes que llegan en gran número. Este artículo se propone analizar el aparecimiento de las “ciudades del agronegócio” en el fronts agricoles y sus características principales: las nuevas relaciones campo-ciudad, la dinámica de la población y del mercado del trabajo y el aprofundamiento des inaqualities socio-espaciales inherente a la modernización de el modo de producción capitalista. Palabras clave: ciudades del agronegócio; fronts agrícolas; relación ciudad-campo XIX ENGA, São Paulo, 2009 FREDERICO, S. 2 Introdução A expansão do campo moderno pelos cerrados é um evento sintomático da dispersão do meio técnico, científico e informacional pelo território brasileiro. Se esse meio, segundo Santos (1985, 1997c; 1993, 1996b; 1996a), se estende de forma praticamente contínua nos estados das regiões Sul e Sudeste, ele aparece como manchas ou pontos no restante do território, como no caso dos fronts agrícolas (SANTOS & SILVEIRA, 2001). Entretanto, se por um lado, sua extensão não é contínua, por outro, sua difusão ocorre de maneira acelerada, devido à escassez de heranças territoriais de grande monta e à maior “concretude” dos novos objetos e ações (SANTOS, 1993, 1996b, p.42). Nas regiões onde o meio técnico, científico e informacional se faz presente, tanto as ações quanto os objetos possuem um grande conteúdo em ciência e informação, o que conduz, segundo Santos (1993, 1996b, p.54), à proliferação de serviços com múltiplas especializações. Este fato é o principal responsável pelo fenômeno da urbanização nessas áreas, pois é nas cidades que o consumo dos serviços acontece e é nelas também que a informação oriunda das diversas partes do globo é tratada e retransmitida. A cidade tornou-se o centro da realização da produção agrícola moderna. Nela articulam-se, de acordo com Santos (1993, p.54), as formas de consumo produtivo e consumptivo (familiar). Para o autor, a primeira forma relaciona-se ao consumo relacionado diretamente à produção; no caso da agricultura moderna vincula-se ao consumo de todos os tipos de serviços e bens materiais como consultorias (técnicas, jurídicas e financeiras), mão-de-obra com ou sem especialização, insumos, pesquisas científicas, transporte e comunicação. A proliferação do consumo produtivo adapta os núcleos urbanos circunscritos pelo campo moderno, tornando-os funcionais às suas demandas (SANTOS, 1993, 1996b, p.55). A segunda forma de consumo complementa a primeira e relaciona-se às demandas da população. A disseminação da agricultura moderna exige a proliferação de serviços, o que atrai uma grande quantidade de migrantes para as cidades. A população urbana, composta por estratos de renda diferenciados, demanda serviços e bens de consumo diversos, de acordo com o seu poder aquisitivo. Cabe às cidades atender a essa demanda oferecendo diversos tipos de serviços e bens de consumo. A quantidade e a qualidade dos consumos produtivos e consumptivos, ofertada por cada município e o seu poder de interconexão com os demais centros, é que vai Modernização da agricultura e dispersão do meio técnico científico informacional: o surgimento de cidades funcionais ao campo moderno nos fronts agrícolas, pp. 1-25 3 redefinir a nova hierarquia da rede urbana nos fronts agrícolas. Algumas cidades tornam-se novos centros, promovendo um crescimento do número de migrantes e do mercado de trabalho, enquanto outras perdem a posição exercida em períodos anteriores. Essa remodelação é acompanhada de uma maior especialização dos núcleos urbanos, aprofundando a divisão territorial do trabalho e acarretando na necessidade da criação de mais fluxos. Cria-se, assim, de acordo com Santos (1993, 1996b, p.44), um círculo “vicioso” entre especialização do território e aumento da circulação. Esse fenômeno promove uma maior inter-relação local-global, devido à necessidade de intensificação dos fluxos materiais e imateriais conectando centros locais e regionais diretamente às metrópoles nacionais e mundiais. A especialização dos núcleos urbanos, provocada pelas demandas do campo moderno, transformou a antiga relação campo-cidade, baseada na regulação local e nos nexos de complementaridade. Na nova fase, a cidade tornou-se o lócus principal da produção, pois é nesta que se concentram os principais serviços, produtos e agentes (trabalhadores agrícolas, produtores, consultores, empresas, bancos) necessários à produção. Segundo Elias (2007, p.116), os elementos estruturantes desta nova relação são encontrados “na expansão do trabalho agropecuário que promove o êxodo rural (migração ascendente) e a migração descendente de profissionais especializados no agronegócio e na difusão do consumo produtivo agrícola”. Este fato, segundo a autora, “evidencia que é na cidade que se realizam a regulação, a gestão e a normatização das transformações verificadas nos pontos luminosos do espaço agrícola” (ELIAS, 2007, p.116) Quanto maior a especialização produtiva do campo e seu respectivo conteúdo em ciência e informação, maior será a urbanização e a inter-relação entre o campo e a cidade. Os núcleos urbanos surgidos ou adaptados à demanda do campo moderno são denominados, por Elias (2007, p.120), como “cidades do agronegócio”. Estas são aquelas “cujas funções de atendimento às demandas do agronegócio globalizado são hegemônicas sobre as demais funções”. Para analisarmos o fenômeno do surgimento de cidades funcionais ao campo moderno nos fronts agrícolas, selecionamos, orientados por Elias (2007, p.125), algumas variáveis. Segundo a autora, os temas e processos que permitem identificar a produção das “cidades do agronegócio” podem ser agrupados em três eixos: o primeiro refere-se às novas relações cidade-campo, pautadas sobretudo na funcionalidade dos núcleos urbanos às demandas do campo moderno; o segundo, consiste na XIX ENGA, São Paulo, 2009 FREDERICO, S. 4 identificação do mercado de trabalho agropecuário e na dinâmica populacional; e o terceiro eixo considera o aprofundamento das desigualdades sócio-espaciais inerentes à modernização do modo de produção capitalista. Os eventos representativos dos três eixos se inter-relacionam e são ao mesmo tempo causa e conseqüência. Mas, numa tentativa de qualificar e de demonstrar a existência do fenômeno das “cidades do agronegócio” nos fronts agrícolas, subdividimos os eventos correlatos nos três eixos propostos por Elias (2007). Modernização da agricultura e novas relações campo-cidade Como já mencionado, a modernização das atividades agrícolas, por meio da incorporação de novos sistemas técnicos, tem exigido uma refuncionalização das cidades próximas. A configuração territorial urbana (SANTOS, 1985, 1997c) tornou-se funcional ao campo moderno, devido à instalação de fixos (armazéns, escritórios exportadores, bancos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários, sistemas de energia e comunicação), necessários à viabilização dos fluxos inerentes aos circuitos espaciais produtivos e aos círculos de cooperação agrícolas. Ao possuírem formas com conteúdos cada vez mais específicos, as cidades se diferenciam, criando uma hierarquia entre os diferentes centros. Dentre os serviços presentes nas cidades do agronegócio, aqueles relacionados aos fluxos financeiros podem ser considerados os mais importantes por anteceder e serem fundamentais à produção. Além dos créditos tradicionais ofertados pelo Estado, por meio dos bancos públicos, existe também o financiamento feito pelos bancos privados, cooperativas de crédito e empresas privadas. O valor do financiamento agrícola sofre uma queda na primeira metade da década de 1990, mas passa a apresentar uma constante de crescimento desde 1997. O financiamento público, realizado sobretudo pelo Banco do Brasil, continua a ser o mais expressivo, apesar de na última década o financiamento privado ter aumentado significativamente. No ano de 1999, o financiamento público federal representava 64% do total, com cerca de R$ 5,8 bilhões em empréstimos, enquanto os bancos privados representavam 30%, com um valor aproximado de R$ 2,7 bilhões, restando às cooperativas de crédito rural apenas 4% na participação total. No ano de 2006, a participação do financiamento público federal caiu para 49% do total em detrimento do aumento da participação dos bancos privados que foi de 43%, com um valor de 13,5 bilhões, crescimento de 400%, com relação a 1999. O valor do crédito disponibilizado Modernização da agricultura e dispersão do meio técnico científico informacional: o surgimento de cidades funcionais ao campo moderno nos fronts agrícolas, pp. 1-25 5 pelas cooperativas de crédito também teve um crescimento significativo de 432%, no mesmo uploads/Finance/ modernizacao-da-agricultura-e-dispersao-do-meio-tecnico-cientifico-informacional-o-surgimento-de-cidades-funcionais-ao-campo-moderno-nos-fronts-agricolas.pdf
Documents similaires
-
8
-
0
-
0
Licence et utilisation
Gratuit pour un usage personnel Attribution requise- Détails
- Publié le Aoû 30, 2021
- Catégorie Business / Finance
- Langue French
- Taille du fichier 1.0316MB