Revista Eletrônica Sistemas & Gestão 4 (2) 155-181 Programa de Pós-Graduação em

Revista Eletrônica Sistemas & Gestão 4 (2) 155-181 Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Gestão, TEP/TCE/CTC/PROPP/UFF SISTEMAS & GESTÃO, v.4, n.2, p.155-181, maio a agosto de 2009 155 Problemas logísticos na exportação brasileira da soja em grão Heráclito Lopes Jaguaribe Pontes1, hjaguaribe@ufc.br Breno Barros Telles do Carmo2, brenotelles@det.ufc.br Arthur José Vieira Porto2, ajvporto@sc.usp.br 1 Universidade Federal do Ceará (UFC), Departamento de Engenharia Mecânica e de Produção, Fortaleza, CE, Brasil 2 Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestrando em Engenharia de Transportes, Fortaleza, CE, Brasil 3 Universidade de São Paulo (USP), Departamento de Engenharia Mecânica, São Carlos, SP, Brasil *Recebido: Maio, 2008 / Aceito: Agosto, 2009 RESUMO Com o processo de globalização, as nações mundiais estão tendo um aumento do comércio internacional. O Brasil tem, cada vez mais, utilizado o agronegócio como uma estratégia de inserção na economia mundial. As exportações de produtos agrícolas brasileiros vêm desempenhando um importante papel no fornecimento de divisas e aumento da renda doméstica, mas um problema visível da agroindústria para exportação está relacionado à logística. No mercado mundial, o Brasil apresenta vantagens comparativas na produção de produtos agrícolas em relação aos outros produtores mundiais, mas perde em custos logísticos. A importância deste trabalho está em caracterizar os problemas logísticos da exportação brasileira de uma das mais importantes commodities nacional, a soja em grão. A soja é o produto agrícola que mais gera volume de exportação para o Brasil, exigindo bastante da estrutura logística do país. Para realização deste trabalho utilizou-se de uma ampla pesquisa bibliográfica, onde se realizou um levantamento detalhado dos principais problemas, causas, custos e soluções para o escoamento da soja em grão brasileira para exportação. A partir do desenvolvimento deste trabalho percebeu-se que os desafios da logística da soja são muitos e que a resolução dos mesmos aumentará a competitividade internacional brasileira, aumentando a confiabilidade nos tempos de entrega e reduzindo os custos das ineficiências no processo de exportação. Palavras-chave: Logística. Exportação. Soja. 1. INTRODUÇÃO Com o processo de globalização, as nações mundiais estão tendo um aumento do comércio internacional. O Brasil tem, cada vez mais, utilizado o agronegócio como uma estratégia de inserção na economia mundial. As exportações de produtos agrícolas brasileiros vêm desempenhando um importante papel no fornecimento de divisas e aumento Pontes, Do Carmo & Porto - Problemas logísticos na exportação brasileira da soja em grão SISTEMAS & GESTÃO, v.4, n.2, p.155-181, maio a agosto de 2009 156 da renda doméstica, resultando por sua vez em maior competitividade do país devido ao enfrentamento da concorrência internacional. As exportações de produtos agrícolas brasileiros vêm tendo grandes aumentos nos últimos anos, mas com a estabilização da economia do país e a eliminação do processo inflacionário, os agentes econômicos recuperaram a noção de preços relativos, trazendo à tona ineficiências da infra-estrutura que reduzem a competitividade dos produtos agrícolas brasileiros. No Brasil, um gargalo visível de produtos agrícolas para exportação está relacionado à logística. Sabe-se que o transporte precário da matéria-prima entre as fontes primárias de produção para a exportação, representa enorme prejuízo para o país. A melhoria das rodovias e do modal ferroviário e o melhor aproveitamento do transporte hidroviário são essenciais e prementes, além do aperfeiçoamento da produtividade dos portos e armazéns. O Brasil perde a competitividade quando o produto agrícola sai pela porteira das propriedades rurais com preços baixos e chega ao destino com custos altíssimos por causa dos problemas logísticos (OMETTO, 2006). A soja (soja em grão) constitui-se numa das mais importantes commodities nacionais. A soja é o produto agrícola que mais gera volume (em toneladas) de exportação para o Brasil, exigindo bastante da estrutura logística do país. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais – ABIOVE (2007), o Brasil é responsável por cerca de 28% da produção mundial de soja. O país é o segundo maior produtor e exportador mundial de soja. No mercado mundial o Brasil apresenta vantagens comparativas na produção de soja em relação aos outros produtores mundiais, mas perde em custos logísticos. Assim é necessário melhorias na infra-estrutura logística, visando redução de custos e de tempo. Algumas das maiores empresas exportadoras da soja brasileira indicam que suas principais restrições para aumento do volume exportado estão relacionadas aos custos e às incertezas inerentes ao processo de escoamento da produção da soja (MEREGE e ASSUMPÇÃO, 2002). Dada à importância da soja como principal produto agrícola exportado pelo Brasil e pelo crescimento de suas exportações nos últimos anos, observou-se a necessidade de realização de um trabalho para a análise dos principais problemas logísticos encontrados em seu escoamento para o mercado externo. O objetivo principal deste trabalho é caracterizar e discutir os principais problemas logísticos da exportação brasileira de soja em grão. Para isso, foi realizada uma pesquisa teórica, com características descritiva e explicativa, abordando as questões por meio da discussão dos seguintes aspectos: • Operações logísticas de exportação da soja em grão Brasileira; • Principais problemas, suas causas e custos; • Soluções existentes. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 LOGÍSTICA E O MERCADO INTERNACIONAL Segundo Fleury (2005), um dos principais efeitos do processo de globalização que vem afetando a grande maioria das nações é o aumento do comércio internacional, que nos últimos vinte anos vem crescendo a uma taxa superior ao do PIB mundial. Entre 1995 e 2003, a taxa média de crescimento do comércio internacional foi o dobro da taxa de crescimento do PIB mundial, ou seja, enquanto o PIB cresceu a uma taxa de 2,7% ao ano, o comércio cresceu a uma taxa de 5,4%. Pontes, Do Carmo & Porto - Problemas logísticos na exportação brasileira da soja em grão SISTEMAS & GESTÃO, v.4, n.2, p.155-181, maio a agosto de 2009 157 Coutinho e Ferraz (1994) relatam que a presença sistêmica em mercados internacionais representa um estimulo à produtividade. A maior concorrência e possibilidade de expansões independentes do mercado interno exigem estratégias competitivas por parte das empresas. Além da evolução na direção de produtos de maior dinamismo, para assegurar a competitividade em commodities, o maior desafio é a eficiência na articulação das distintas fases da cadeia produtiva, que podem ser evidenciadas na expansão da fronteira agrícola, quando aparecem as deficiências em transportes, armazenagem e opções portuárias. Bowersox e Closs (2001) afirmam que um eficiente sistema logístico, tão importante para as operações dentro de um país, é absolutamente necessário nas atividades de produção e marketing em nível global. A logística dentro do país concentra-se em serviço de valor agregado num ambiente relativamente controlado. A logística globalizada deve atender a todos os requisitos do país, e ainda fazer face às crescentes incertezas ligadas à distância, à demanda, à diversidade e à documentação das operações. Os desafios enfrentados pelos sistemas logísticos globalizados variam muito de região para região. Conforme Batalha et al (1997), o estado assume o papel de provedor da infra- estrutura logística, sendo assim, responsável por um componente relevante dos custos das empresas. Em um contexto de comércio internacional, essa infra-estrutura é especialmente relevante porque determina os custos com que as mercadorias de um país chegam ao mercador externo. Um sistema logístico mais eficiente pode, portanto, reduzir os custos das mercadorias que um país coloca no mercado internacional. Em outras palavras, o sistema logístico é um fator de competitividade no mercado internacional, substituindo estratégias tradicionais e repletas de conseqüências negativas, como desvalorização cambial. 2.2 LOGÍSTICA NO BRASIL A infra-estrutura logística no Brasil encontra-se pouco desenvolvida, as empresas estão começando agora a integrar as suas atividades logísticas. Esse panorama é fruto da política econômica adotada pelo governo brasileiro ao longo de décadas. A política adotada favoreceu o desenvolvimento interno em detrimento do avanço internacional. A infra- estrutura logística, principalmente o transporte, foi desenvolvida pelo governo, em um padrão estatal, para contemplar a integração do mercado interno, sem preocupação com custos, qualidade e produtividade (FREITAS, 2003). Complementa Freitas (2003) dizendo que após o início da década de 80, a infra- estrutura logística brasileira sofreu um processo de estagnação e degradação, atenuada nos meados dos anos 90. Embora o Brasil já tenha aumentado à competitividade das suas unidades produtivas, seu posicionamento no mercado internacional está comprometido em função dos elevados custos logísticos. De acordo com Fleury (2005), o aumento explosivo das exportações entre 1999 e 2003 teve vários impactos positivos, ao mesmo tempo em que revelou uma série de fragilidades logísticas do país. Dentre os aspectos positivos destaca-se o aumento da participação do Brasil nas exportações mundiais, que saltou de 0,86% para 1,03%, o crescimento da participação das exportações no PIB nacional, que pulou de 7% para 13%, e o aumento das reservas cambiais do país. A fragilidade foi representada pela falta de infra-estrutura logística no país. As condições precárias das rodovias, pela baixa eficiência e falta de capacidade das ferrovias, pela desorganização e excesso de burocracia dos portos, tiveram como resultado o aumento das filas de caminhões nos principais portos, longas esperas de navios para a atracação, o não cumprimento dos prazos de entrega ao exterior, tudo isto resultando no aumento dos custos e redução da competitividade dos produtos brasileiros no exterior (FLEURY, 2005). Pontes, Do Carmo & Porto uploads/Geographie/ 84-400-1-pb.pdf

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