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Nuevo Mundo Mundos Nuevos Coloquios, 2007 ............................................................................................................................................................................................................................................................................................... Mônica Pimenta Velloso A dança como alma da brasilidade Paris , Rio de Janeiro e o maxixe ............................................................................................................................................................................................................................................................................................... Avertissement Le contenu de ce site relève de la législation française sur la propriété intellectuelle et est la propriété exclusive de l'éditeur. 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Referencia electrónica Mônica Pimenta Velloso, « A dança como alma da brasilidade », Nuevo Mundo Mundos Nuevos [En línea], Coloquios, 2007, Puesto en línea el 15 mars 2007. URL : http://nuevomundo.revues.org/index3709.html DOI : en cours d'attribution Éditeur : EHESS http://nuevomundo.revues.org http://www.revues.org Document accessible en ligne à l'adresse suivante : http://nuevomundo.revues.org/index3709.html Document généré automatiquement le 04 octobre 2009. © T ous droits réservés A dança como alma da brasilidade 2 Nuevo Mundo Mundos Nuevos Mônica Pimenta Velloso A dança como alma da brasilidade Paris , Rio de Janeiro e o maxixe 1- Uma nação imaginada: a brasilidade corpórea 1 Esse ensaio integra um conjunto de reflexões sobre a constituição de uma sensibilidade modernista brasileira, centrada no corpo 1. No início do século XX, a temática de uma “dança nacional” desencadeia discussão apaixonada, revelando o papel estratégico da cultura sensível, como um dos referenciais organizadores da vida social. 2 O maxixe inspira matérias na imprensa, crônicas literárias, caricaturas, conferências; favorecendo, também, o surgimento de novos vocábulos e gírias. Na imprensa, um fato contribuiria para dar dimensão inusitada à dança. Em 1913, um casal de brasileiros, apresenta o maxixe em Paris. O acontecimento ganha projeção internacional, mobilizando jornalistas, políticos, autoridades civis, eclesiásticas e militares, atraindo, também, a atenção de diplomatas, artistas e intelectuais. A que aludir tal impacto? Afinal, de contas, por que o acontecimento desencadearia tamanha repercussão ? 3 O maxixe já era conhecido na França. Entre 1898-1901, a mulata Plácida dos Santos apresentara-se no “Folies Bergéres”; a dupla de cançonetistas Geraldo Magalhães e Nina Teixeira, em 1908,fazia sucesso no teatro Marigny. Na realidade, a história desse intercâmbio entre Paris e Rio de Janeiro começara bem antes de 1913. Charles Borel-Clerc em 1905, usa o nome da dança como título de uma curiosa canção “la Matchiche”. Feminizando o maxixe, o compositor dizia ter se inspirado em uma marcha espanhola que não era nada menos que um rearranjo da ópera romântica do Guarani de Carlos Gomes A canção dizia: C´est la danse nouvelle Mademoiselle Prenez un air de canaille2 4 A canção fez grande sucesso na França e no Brasil. 3 No carnaval de 1907, os cariocas respondem com uma paródia, explorando uma manchete da época: a prisão dos bandidos Carleto e Roca. Esses dados revelam os amálgamas culturais que resultam do processo de invenção das nacionalidades. Um outro dado: o casal não era brasileiro, nem carioca, conforme sustentavam algumas manchetes. Duque (pseudônimo de Antonio Lopes de Amorim) era baiano, residente no Rio de Janeiro e a sua partenaire Maria Lina, apesar de ter vindo, ainda adolescente, para o Rio de Janeiro, era de origem italiana. Tinha realizado os seus primeiros estudos de ballet no Scala de Milão. 5 O noticiário se detinha em um ponto: pela primeira vez, era apresentado ao mundo o verdadeiro maxixe: o “nacional- brasileiro”. Todas as exibições anteriores não passariam de camouflages, assegurava-se. Tais declarações eram reforçadas por fotos e desenhos em que se apresentavam detalhes da dança, sobretudo, mostrando a posição dos pés, como sinal da autenticidade de uma coreografia dita brasileira (Jotaefegê, 1974) e (Saroldi ,2000). 6 Esse detalhe é importante. Remete à idéia de uma brasilidade corpórea, que se traduziria pelo ritmo dos pés. 7 As notícias não são o que aconteceram mas o que os relatos declaram ter acontecido, como nos lembra Robert Darton 4. É a dinâmica da comunicação que molda o acontecimento. A sua forma de expressão, organização e divulgação articula-se à traços do imaginário social que A dança como alma da brasilidade 3 Nuevo Mundo Mundos Nuevos se deseja realçar. A polêmica sobre o maxixe circunscreve-se a esse quadro: o de criação de uma “comunidade imaginária brasileira”, centrada no corpo. 8 E torno dessa invenção, que se estabelecem sintonias entre a cidade do Rio de Janeiro e a metrópole parisiense, na primeira década do século XX. O Rio, pólo de atração e irradiação de culturas, vive um período de efervescência em que convivem influências do cosmopolitismo com elementos das tradições populares, oriundas das várias províncias e regiões brasileiras. 9 Paris, capital cultural do mundo, conta com uma vanguarda artística interessada na antropologia e pesquisa de outras formas culturais. O grupo mostra-se atento, sobretudo, às tradições oriundas da África. Tal interesse não se restringia ao circuito vanguardista mas envolvia parte expressiva das classes médias que demonstravam interesse pelas novidades de outros países. 10 As danças e coreografias eram alvo de especial atenção. A partir de 1880, exibições etnológicas e exposições universais permitiriam ao grande público descobrir as danças da África, Ásia e Oriente, denominadas “danses exotiques” (Décoret-Ahiha, 2004). Tais danças contavam com uma platéia entusiasta nos cabarés; seus passos também eram ensaiados pelos casais parisienses nos dancings espalhados pela metrópole européia. Neste cenário, teriam receptividade as danses nouvelles: o cake walk e as danças latinas como o tango argentino, rumba cubana e as danças mexicanas, peruanas, paraguaias 5. 11 Considerado dança “nacional- brasileira”, “dança moderna” ou “exótica”, o maxixe inscreve- se nessa dinâmica urbana. 1.1- “Nós somos um povo que vive dançando” (Olavo Bilac, 1906) 12 No início da década de XX, a idéia de “ser brasileiro” abriga variada gama de sentidos, considerando as múltiplas inserções sociais. Alain Corbin(2000) afirma que, necessáriamente, indivíduos contemporâneos não vivem na mesma comunidade, pois suas escalas de valores podem ser tão distintas e capazes de engendrar comportamentos tão diversos que, pode- se dizer, “não vivem em um mesmo tempo”. Entender essa simultaneidade social é um dos propósitos da história cultural. 13 Vai-se mostrar os distintos matizes que organizam a “comunidade imaginária”brasileira, na década de 1910. São nas maneiras de perceber, sentir e traduzir o mundo que , revelam-se pertencimentos culturais. A pesquisa histórica tem contemplado o aspecto manipulador da memória, destacando-a como atividade puramente voluntária, racional e intelectiva. Essa visão deixa obscurecidos os seus vínculos com a emoção e a complexa rede dos sentidos corporais que abriga outras percepções sobre a temporalidade histórica 6. A dança será enfocada como vertente do imaginário da brasilidade. Mário de Andrade percebera a questão 7. Pondera que os intelectuais, além de exercerem a função crítica na sociedade, deveriam, também, viver as sensações. Conclui afirmando ao amigo : “é com essa gente que se aprende a sentir e não com a inteligência e a erudição livresca”. 14 Sentir o mundo é uma outra maneira de pensá-lo. As percepçõessensoriais não são, apenas, de ordem fisiológica mas fruto de uma orientação cultural, deixando margem às sensibilidades individuais. Isso significa entender que os homens participam de uma determinada sociedade, não só pelas suas ações, sagacidade, palavras e atos mas por uma série de gestos emímicasque concorrem para a comunicação e imersão no seio de rituais cotidianos. Essas idéias, inspiradas em uma na antropologia sensorial histórica (Corbin, 2000) e na antropologia dos sentidos(Breton, 2006) possibilitam iluminar novas dimensões da história e do passado. 15 A percepção de uma identidade sensível, expressa pelo corpóreo-gestual foi, habilmente, captada em crônica de Olavo Bilac : “A dança no Rio de Janeiro”, publicada na Kosmos, em maio de 1906. Parte-se da seguinte constatação: “Nós somos um povo que vive dançando”. A dança como alma da brasilidade 4 Nuevo Mundo Mundos Nuevos 16 É através desses corpos-dançantes que o autor constrói uma cartografia sensível da cidade, tomando os corpos como indicadores de culturas. O cronista afirma que esse comprometimento seria tão forte que, mesmo se conduzido de olhos vendados para qualquer bairro da cidade, se tirada a venda, saberia identificar, no ato, o local em que se encontrava. 17 A visão constitui-se em referencial básico de sua orientação. 18 Vamos acompanhar o cronista no seu passeio de observação, buscando ver através dos seus olhos. No primeiro ambiente, a dança é serena, majestosa, parecendo um ritual religioso. Vestindo casacas pretas, os cavalheiros severos parecem sacerdotes; as damas, arrastando caudas de rainha, parecem cumprir uma obrigação cultural. Nesse lugar, os gestos são solenes e medidos: as mãos, apenas, se tocam e os pés arrastam-se, sem barulho. Estamos no bairro de Botafogo, nos assegura o autor. 19 O outro cenário é bem distinto: não se avistam casacas, nem caudas nos vestidos. A dança nada tem de cerimônia: é prazer, embora contido. As damas tem a uploads/Litterature/ a-danca-como-alma-da-brasilidade 1 .pdf

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