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183 InCID: R. Ci. Inf. e Doc., Ribeirão Preto, v. 7, n. esp., p. 183-201, ago. 2016. DOI: 10.11606/issn.2178-2075.v7iespp183-201 Bibliotecas, Bibliofilia e Bibliografia: alguns apontamentos1 Libraries, Bibliophile and Bibliography: some approaches Diná Marques Pereira Araújo Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG Bibliotecária-documentalista da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. E-mail: dina-araujo@bu.ufmg.br Alcenir Soares dos Reis Doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Professora Associada da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. E-mail: alcenir@eci.ufmg.br Resumo Aborda sobre Bibliografia e suas relações com a Bibliofilia e a Biblioteconomia de Livros Raros. Apresenta autores que destacam as várias vozes e significados atribuídos à Bibliografia. Discorre sobre os repertórios bibliográficos apresentando exemplos de bibliografias da Bibliofilia a partir do século XVIII. Aponta um panorama da Bibliografia Material, anglo-saxã e sua influência na Biblioteconomia. Reflete sobre as correntes da bibliografia como campo do conhecimento necessário para a formação do bibliotecário-pesquisador de livros raros, antigos e especiais. Palavras-chave: Bibliografia. Bibliografia Material. Livros Raros. Abstract Discusses about Bibliography and its relations with the Bibliophile and Rare Book Librarianship. Emphasizes the authors who talk about the various voices and meanings attributed to the Bibliography. Discusses the bibliographic repertoires providing examples of bibliographies directed to the Bibliophile. Points an overview of material bibliography, Anglo-Saxon, and its use by the Librarianship. Reflects on the currents of bibliography as a field of knowledge required for the formation of the librarian-researcher of rare books. Keywords: Bibliography. Material bibliography. Rare books. 1 Artigo foi apresentado no I Seminário Internacional “A Arte da Bibliografia: ferramentas históricas, problemas metodológicos e práticas contemporâneas” aos dias 04 de dezembro de 2014, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação/IBICT-UFRJ. 184 Bibliotecas, Bibliofilia e Bibliografia: alguns apontamentos InCID: R. Ci. Inf. e Doc., Ribeirão Preto, v. 7, n. esp., p. 183-201, ago. 2016. Apresentação As nominações para bibliotecas institucionais que resguardam acervos antigos e raros variam entre Obras Raras, Fundos Antigos, Biblioteca Histórica, Biblioteca Patrimonial e Coleções Especiais. Os autores Steven Kenneth Galbraith e Geoffrey Dayton Smith, em Rare Book Librarianship, denominam as coleções documentais patrimoniais, em instituições públicas de língua inglesa no século XX, como acervos de “Livros Raros e Coleções Especiais” (GALBRAITH & SMITH, 2012, p.9). Os apontamentos em nossa apresentação estão voltados para o contexto dos acervos bibliográficos reconhecidos como especiais e raros. As coleções especiais em bibliotecas institucionais são distintas dos demais acervos de uma biblioteca por sua constituição temática, finalidade, características materiais e significados patrimoniais para a instituição que as preservam. A política de desenvolvimento de acervo é outro fator que proporciona distinção para essas coleções ao estabelecer planos normativos para sistematizar formas de organização, conservação, aquisição, acesso, segurança, pesquisas e avaliação de coleção(ões) formada(s) ou em formação com o objetivo de garantir preservação e acesso ao público. Nas coleções especiais da Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Minas Gerais, por exemplo, um dos fundamentos para a formação de uma coleção especial é a sua relevância para ações de ensino, pesquisa e extensão. Nesse contexto, a seleção individualizada de livros raros, antigos e especiais considera a importância científica, histórica, estética e cultural desses documentos. Tal avaliação busca compreender e reconhecer determinado livro a partir das seguintes diretrizes: a) Identificar a relevância da publicação para a memória da instituição. b) Buscar informações sobre o contexto histórico, social e cultural da publicação. c) Localizar e avaliar notícias bibliográficas em repertórios de livros raros e antigos. d) Realizar analise material. Os pontos escolhidos para explanação nesse Seminário são aqueles apontados nos itens “c” e “d” – a pesquisa bibliográfica e a análise do objeto bibliográfico –, compreendidos como atividades que fazem parte da atuação do bibliotecário em coleções especiais. Nosso objetivo é buscar aproximações que contextualizem os repertórios bibliográficos como instrumentos de identificação de livros raros e antigos e, do mesmo modo, discorrer sobre a análise material do livro a partir das influências da Bibliografia Material. 185 Diná Marques Pereira Araújo e Alcenir Soares dos Reis InCID: R. Ci. Inf. e Doc., Ribeirão Preto, v. 7, n. esp., p. 183-201, ago. 2016. Dessa forma, seguiremos com apontamentos sobre a Bibliografia, identificadas aqui como repertorial e material, em consonância com a divisão apontada por Fermín de los Reyes Gómez (2005) na qual a primeira se propõe a buscar, identificar, descrever e classificar os documentos para elaborar repertórios como instrumentos para auxiliar a pesquisa. la bibliografía o ciencia del libro se propone buscar, identificar, describir y clasificar los documentos para elaborar repertorios que faciliten el trabajo intelectual. Desde esta perspectiva, los estudios y repertorios bibliográficos se centran más en la estructura interna de los libros que en su elaboración material, por lo que los límites son culturales y se ciñen a unas etapas históricas, que pueden variar de unos países a otros. (REYES GÓMEZ, 2005, p. 39-40). A segunda, a Bibliografia Material, de âmbito anglo-saxão, se dedica ao estudo da técnica de produção do livro sobre seu aspecto histórico, descritivo, analítico e crítico – e, como veremos, adotado pela Biblioteconomia para a identificação de livros antigos e também como método para auxiliar a descrição em instrumentos de apoio à pesquisa (bibliografias e catálogos, por exemplo). Essa corrente teórica “también denominada «analitical bibliography», «bibliography» se identifica con la «ciencia del libro», objeto de su estudio bajo todos sus aspectos: histórico, descriptivo, analítico, crítico y catalográfico” (REYES GÓMEZ, 2005, p. 40). O presente texto aborda essas vertentes da Bibliografia como disciplinas fundamentais da Biblioteconomia de Livros Raros. Raphaële Mouren (2012), no livro Ambassadors of the book, referenda que os primeiros passos para a investigação sobre o livro raro e antigo, na prática profissional dos bibliotecários, perpassam pelo reconhecimento histórico da produção do livro – considerando o texto veiculado e o contexto social e cultural de sua produção; a identificação de outros exemplares tendo de um lado a necessidade de realizar análise material do livro com outros exemplares existentes; e a consulta aos repertórios de livros antigos e raros (bibliografias, catálogos, inventários institucionais e comerciais). Ao analisar a produção intelectual da Biblioteconomia de Livros Raros no Brasil (no período compreendido entre a segunda metade do século XX e início do XXI)2 identificamos que são frequentes: a) as indicações da consulta às obras de referência sobre livros raros; e b) a necessidade do estudo do livro em sua materialidade. Desse modo, discutir sobre as correntes (repertorial e material) da Bibliografia visa compreender como elas estão relacionadas com a 2 O estudo da produção intelectual da Biblioteconomia brasileira sobre a temática livros raros – parte do projeto de pesquisa de mestrado de Diná Araújo sob a orientação de Alcenir Soares dos Reis no Programa de Pós- Graduação em Ciência da Informação da UFMG – dialoga com nossa abordagem, mas não faz parte da exposição selecionada para esse Seminário. 186 Bibliotecas, Bibliofilia e Bibliografia: alguns apontamentos InCID: R. Ci. Inf. e Doc., Ribeirão Preto, v. 7, n. esp., p. 183-201, ago. 2016. Biblioteconomia enquanto disciplinas instrumentais para a pesquisa sobre o livro raro e antigo. Uma corrente auxilia com teorias e métodos de análise material e outra contribui para a identificação de livros, para a produção de repertórios e ainda retrata os usos e significados culturais e sociais do livro ao longo da história. Bibliografia Sem a intenção de apresentar uma historiografia dos estudos sobre a Bibliografia selecionamos alguns autores para a presente explanação. O primeiro é José Simón Díaz3 (1971) que em seu livro La Bibliografía: conceptos y aplicaciones expõe as várias vozes da Bibliografia. Um possível resumo para as vozes apontadas pelo autor são: a) Bibliografia: lista de livros. Compreendida a partir do surgimento do livro impresso, no século XV, a bibliografia teve seu nome próprio somente no século XVII, quando Naudé e Louis Jacob deram esse nome às relações de títulos de livros, elaboradas por eruditos e livreiros. b) Bibliografia: conceito neoclássico, século XVIII, direcionada para o conhecimento dos manuscritos. c) Bibliografia: ciência do livro, século XVIII, compreendendo dois ramos: a produção do livro e a sua história (valores, autores, editores, catalogação, classificação, difusão...). Seguindo essa constante até o século XX, quando bibliógrafos anglo-saxões propõem estudos do livro a partir de suas características materiais, para através delas, possibilitar a autenticidade de uma edição, precisar seu local de publicação e data, por exemplo. d) Bibliografia: ciência das bibliotecas e) Bibliografia: ciência dos repertórios, do século XIX ao século XX. “En 1812, Gabriel Peignot, em su Répertoire universel de bibliographie, emplea por primera vez el término <<Bibliología>> para designar la Ciencia del Libro y reserva el de <<Bibliografía>> para uma de sus partes, la que estudia los repertórios” (SIMÓN DÍAZ, 1971, p. 17). 3 Renomado bibliografo espanhol do século XX, sua biobibliografia pode ser consultada em: BIO- BIBLIOGRAFIA DE JOSÉ SIMÓN DÍAZ, Documentación de las ciencias de la información, n.10. Ed, Univ, Complutense. Madrid, 1986, p. 11-42. Disponível em: < https://revistas.ucm.es/index.php/DCIN/.../20451>. 187 Diná Marques Pereira Araújo e Alcenir Soares dos Reis uploads/Ingenierie_Lourd/ bibliografia-material.pdf

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