Palíndromo, v. 13, n. 30, p. 272-290, maio - agosto 2021 La nymph dans les tuil
Palíndromo, v. 13, n. 30, p. 272-290, maio - agosto 2021 La nymph dans les tuiles de Adriana Varejão The nymph in the tiles of Adriana Varejão Adriel Dalmolin Zortéa1 Daniela Queiroz Campos 2 A ninfa nos azulejos de Adriana Varejão 273 A ninfa nos azulejos de Adriana Varejão Adriel Dalmolin Zortéa, Daniela Queiroz Palíndromo, v. 13, n. 30, p. 273-290, maio - agosto 2021 1 Graduando em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Foi bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET). É bolsista de Iniciação Científica do CNPq. Tem interesse em História e Teoria da Arte. Link ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5823-2638 Link lattes: http://lattes.cnpq.br/9004537654401468 E-mail: adrielzortea@outlook.com 2 Professora de História da Arte da História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pós-doutora- do pelo Centre d’Histoire et de Théorie des Arts (CEHTA) da École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) de Paris. Link ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9681-0977 Link lattes: http://lattes.cnpq.br/6762399715666997 E-mail: camposdanielaqueiroz@gmail.com Abstract This article focuses on the Nymph present in the works of plastic artist Adriana Varejão (1964-). Born in Rio de Janeiro, Varejão’s imagery is a highlight in the contemporary artistic circuit. The images are analyzed through theorical questions articulated with the Nymph, raised by art historian Aby Warburg works, and incorporated and revisited by the works of Georges Didi-Huberman in art history. The nymphs in Varejão were singled out from three of the images present in the series Saunas e Banhos - entangled in the tiles, beloved object by the artist - through the similarities with images produced in other historical periods, also problematized as nymphs. Key-words: Adriana Varejão. Nymph. Tile. Contemporany Art. Résumé: L’étude met en évidence une nymphe dans l’œuvre de l’artiste Adriana Varejão (1964-). Née à Rio de Janeiro, les images de la brésilienne Adriana Varejão se démarquent dans le circuit artistique contemporain. Les images sont analysées à partir de questions théoriques articulées avec la Nym- ph, formulées par l’historien de l’art Aby Warburg dans son œuvre fertile, incorporées et revisitées par l’histoire de l’art écrite par Georges Didi-Huberman. Les Nymphes en Varejão ont été indiquées dans trois de leurs images de la série Saunas e Banhos - enracinées avec la tuile, objet chère à l’artis- te - basées sur des similitudes avec des images produites à d’autres époques historiques, également problématisées comme Nymphes. Mots clés: Adriana Varejão. Nymphe. Tuile. Art contemporaine. Resumo O estudo aponta a ninfa na obra da artista plástica Adriana Varejão (1964-). Nascida no Rio de Janeiro, as imagens da brasileira Adriana Varejão destacam-se no circuito artístico con- temporâneo. Analisam-se as imagens a partir de questões teóricas articuladas com a Ninfa, formuladas pelo historiador da arte Aby Warburg em sua fértil obra, incorporadas e revi- sitadas pela história da arte escrita por Georges Didi-Huberman. As ninfas em Varejão fo- ram indicadas em três de suas imagens da série Saunas e Banhos – entranhadas ao azulejo, tema/objeto caro à artista – a partir de similitudes para com imagens produzidas em outros tempos históricos, também problematizadas como ninfas. Palavras-chave: Adriana Varejão. Ninfa. Azulejo. Arte contemporânea. Palíndromo, v. 13, n. 30, p. 274-290, maio - agosto 2021 274 A ninfa nos azulejos de Adriana Varejão Adriel Dalmolin Zortéa, Daniela Queiroz Campos As ninfas entre a dureza e a fluidez O presente artigo tem como principal objetivo analisar três obras da série Sau- nas e Banhos, da artista plástica brasileira Adriana Varejão (1964-). As análises par- tem de questões teóricas levantadas pelo historiador da arte alemão Aby Warburg (1866-1929) e por um de seus mais destacados exegetas, o filósofo e historiador da arte francês Georges Didi-Huberman (1953-). Ambos fizeram da ninfa um destacado objeto de estudo. Foram selecionadas três obras – The Ghest (2004), A malvada (2009) e O Voyeur (2006) – e a elas foram montadas, justapostas de maneira não resumida ou esquema- tizada, duas destacadas imagens de corpo feminino na história da arte: a Banhista de Valpinçon (1808), do pintor francês Dominique Ingres (1780-1867); e, O Nascimento de Vênus (1483) de Sandro Botticelli (1445-1510), esta última já analisada como ninfa por Warburg em sua tese de doutorado, defendida no ano de 1893 (WARBURG, 2015), e em seu Bilderatlas Mnemosyne (WARBURG, 2010), como também por Didi-Huber- man (DIDI-HUBERMAN, 2005). Em suas análises empreendidas sobre o corpo pintado na Florença do Quattro- cento por Botticelli, Aby Warburg nomeou de ninfa a imagem feminina em movimen- to acentuado. As imagens da ninfa, em Warburg, são comumente associadas a movi- mentos externos, como nos drapeados de cabelos e vestimentas. Sobre ela, Warburg escreveu também fictícia correspondência com o linguista André Jolles (1874-1946), acerca de afresco pintado na Igreja Santa Maria Novella de Florença por Domenico Ghirlandaio (1449-1494). No texto, apontou-a como a criada no Nascimento de São João Batista (1490), no coro da igreja florentina (WARBURG, 2018, p. 68). O intento é analisar as cinco obras a partir de notáveis semelhanças imagéticas, percebíveis em elementos advindos da obra de Aby Warburg e Georges Didi-Hu- berman: sendo eles, nachleben e pathosformel. A partir de sua tese, Warburg viria a elaborar a nachleben, a pós-vida da imagem, que Didi-Huberman (DIDI-HUBERMAN, 2013; 2017b), opta por traduzir por “sobrevivência” (survivance); a imagem do tem- po sobrevivente. O pathosformel diz respeito a uma carga energética, transmitida e transformada, na longa duração, através da gestualidade corpórea humana. A pa- thosformel é a plasticidade da nachleben. Em suma, a nachleben dos corpos femininos em movimento foi resumida por Warburg numa personagem transversal e mítica, a heroína da pathosformel: a nin- fa (DIDI-HUBERMAN, 2013, p. 219). Para o historiador da arte argentino José Emilio Burucúa, a ninfa é um topos na obra de Aby Warburg (BURUCUA, 2003, p. 15). As imagens de Adriana Varejão selecionadas foram abordadas como ninfas a partir des- ses dois elementos. As obras selecionadas foram produzidas em óleo sobre tela ou grafite sobre papel. Possuem um elemento, como destaca Lilia Schwarcz em Pérola Imperfeita (2014), caro à artista: o azulejo. É importante destacar que Adriana Varejão não opera com o azulejo propriamente dito, mas com sua imagem projetada sobre a tela. O azulejo é exposto, apresentado e manipulado através da tinta da artista. As obras da série Saunas e Banhos são marcadas por ambientes monocromáti- cos cobertos por azulejos de dureza e frieza material. Contudo, como reduto para a 275 A ninfa nos azulejos de Adriana Varejão Adriel Dalmolin Zortéa, Daniela Queiroz Palíndromo, v. 13, n. 30, p. 275-290, maio - agosto 2021 figura humana, apesar do suposto interior vazio do ambiente produzido para a imper- meabilidade que é a da sauna/banho, encontra-se sobreposto ao azulejo a imagem do corpo. A ninfa foi indicada no contraponto entre a alvenaria e o azulejo – a dureza da pedra – e a liquidez do sangue e da água – a fluidez do orgânico – bem como, na tenaz sobrevivência de formas em movimento, como os cabelos insuflados de ar ou nas manchas esparsas de sangue sobre a alvura. A ninfa, imagem ligada à drapearia em movimento na história da arte, foi aqui problematizada também a partir da dureza de um azulejo pintado por Adriana Varejão. Adriana Varejão e as formas em movimento As imagens da artista plástica carioca Adriana Varejão condensam referências e regurgitações de diversas obras de um mundo-imagem sempre passível de ser am- pliado. A artista, nascida na cidade do Rio de Janeiro em 1964, filha de um piloto de aeronáutica e de uma nutricionista (MORAES, 2013, p. 19), possui extensa e signifi- cativa obra no contexto artístico contemporâneo brasileiro e também no circuito internacional de arte. Entre diversas exposições, individuais e coletivas, alocadas em diversos museus e espaços culturais ao redor do mundo, destaca-se o pavilhão ex- clusivo dedicado à sua obra no Museu do Inhotim, em Brumadinho (MG). Ademais, obras de sua significativa atividade artística fazem parte de acervo de museus como o Guggenheim Museum e o The Metropolitan Museum of Arte, em Nova York (EUA), o Tate Modern, em Londres (Reino Unido), e a Fondation Cartier pour l’arte contem- porain, em Paris (França). De suas exposições individuais, uma das últimas, realizada no ano de 2019 e apresentada no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), sublinha em seu título – Por uma retórica canibal – a operação levada a cabo por Varejão há cerca de três décadas. Trata-se, enfim, de modificar o já existente, mesclar o novo e o antigo atra- vés de uma (re)visualização do mundo que se propõe arborescente e não-resolutiva. Não se trata, simplesmente, de introduzir elementos heterogêneos, mas de fazê-los debater através de cristalizações e rasgos duradouros de sentido sempre derivados e não-fechados. A artista ressalta, em textos e entrevistas, o impacto significativo que teve o Bar- roco mineiro sobre a sua obra. Se antes de visitar Ouro Preto Varejão já costumava saturar a tela com muita tinta (MORAES, 2013, p. 19), mais tarde, a cor em relevo tornou-se predominante em suas imagens. Se o Barroco pode ser apontado como importante na obra de Varejão, entre diversos temas, suportes e materiais, o azu- lejo – pintado, apresentado, produzido pela artista – possui local uploads/Litterature/ ninfas-no-azulejos-de-adriana-varejao.pdf
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- Publié le Aoû 29, 2021
- Catégorie Literature / Litté...
- Langue French
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