UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA .. ` ~ ~ CENTRQ DE COIVIUNICAÇAO E EXPRE

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA .. ` ~ ~ CENTRQ DE COIVIUNICAÇAO E EXPRESSAO r DEPARTAMENTO DE LINGUAS E LITERATURA VERNACULAS r - ~ POS-GRADUAÇAO EM LITERATURA BRASILEIRA A TUTAMÉIA .- PREFÁCIO Aluno: David Lopes da Silva Dissertação apresentada como ' requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Literatura' Brasileira. Orientadora: Profa. Dra. Ana Luiza Andrade. Florianópolis, janeiro de 2001 Ífl Tuitamena: Prefácio avidl Lopes da Silva Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título MESTRE EM LITERATURA Área. de concentração em Teoria Literária e aprovada na sua forma final pelo Curso de Pós-Graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina GWÉW Ctwltwté Profa.¡Dra. Ana iza Andrade ORIEN A Profa.” Dra. /Simone Pereira Schmidt coóRDENADoRA oo cuRso BANCA EXAMINADORA: Profa. Dra. Ana Lga Andrade PRESIDENTE A /M4 vkyb /`\ Prof. Dr. Evando Batista Nascimento (UFES) / Y' )\a,‹.‹/L/ 0×vv(z‹/¿~ ií Prof. Dr. Raúl Antelo (UFSC) Prof. Dr. Pedro de Souza (UFSC) SUPLENTE _ XIX SUPLEMENTO - ENQICL0P,É.nrA Jzâcuncê NONADA Tomemos, como problema, o termo nonada, pelo qual começa Grande Sertão: Veredas, e que, apesar do silêncio inicial de Cavalcanti Proença, tem interessado aos leitores de Guimarães Rosa. Já Augusto de Campos encontra em nonada um dos motivos “musicais” do texto, e por duas razões: devido à freqüência com que ocorre ele mesmo, e ao característico timbre, repetido e lembrado a todo momento. Por conseguinte, sendo nonada, literalmente, “insignlficância, bagatela”, e de outro lado coincidindo, “por homonímia com a palavra nada”, o “conflito semântico” daí resultante (a “ambivalência”) é “onipresente” ao romance. 1 Donaldo Schüler, também tratando nonada como leítmotiv musical estruturador do romance, estabelece como seu princípio “uma .superposição de conteúdos semânticos adquirida por verbomontagem”, aproximando-o ao “recurso” utilizado pelo “Joyce de Fínnegan 's Wake.” Segundo ele, além do dicionarizado, nonada apresenta, “pelo menos,mais outros dois significados”: “Não é nada” e__“No (preposição com artigo) e nada”, o que o leva a afinnar que a ambivalência, agora traduzida por dimensão “ve1tical”, obrigaria, então, a “leitura em profundidade”.2 _ CAMPOS, Augusto de. “Um lance de “dês” do Grande Sertão”. In: COUTINHO, Afiânio (dir.). Coleção fortuna Crítica 6: Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991, p.333. 2 SCHULER, Donaldo. “Grande Sertão: Veredas - estudos”. In: COUTINHO, Afrânio (dir.). Coleção fortuna Crítica 6: Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991, p.3'71. ' 1 . XVIII Em 1970, Nei Leandro de Castro, observa que, das seis vezes em que ~ nonada aparece ein Grande Sertao: Veredas, em quatro significaria a “forma reforçada da negação”. Nas restantes, percebe o “caráter pessoal e coloração nova” empregues, explicitando-as, embora não explicando a inovação. 3 › Citado por e anterior a ela sete anos, Vilem Flusser, cujo esforço por filiar nonada à tradição filosófica contemporânea, acabaria indicando um caminho a seguir: “A negação do nichts heideggeriano e do néant sartriano é o ponto de partida do Grande Sertão com suas veredas. E traduzo a frase heideggeriana Das Nichts nichtet (°o nada nadifica°) para a língua de Guimarães Rosa: °Nonada°”4 . Conectando os extremos do livro, Manuel Antônio de Castro cria uma interpretação matemática para nonada ao lembrar que o travessão, primeiro signo do texto, indica o nada, “daí seguir-se-lhe °Nonada°, isto é, “No-nada”° e ligá-los, sinal e palavra, aos dois últimos: ““Travessia°, e o sinal matemático que se lhe segue: oo, ou seja, o infinito:,tudo.”5 õ - João Guimarães Rosa, no Glossário do Prefácio “A escova e a dúvida”, de T utaméia - T erceíras Estórias, situa nonada no primeiro lugar da lista de sinônimos de “tutaméia” que contém ainda “baga, ninha, inânias, ossos-de- borboleta, quiquiriqui, 'tuta-e-meia, mexinflório, chonunela, nica, quase nada”6. Exceto o último, todos figuram (alguns alterados) no verbete “ninharia”, da 3 CASTRO, Nei Leandro de. Universo e Vocabulário do Grande Sertão. Rio de Janeiro: José Olympio, 1970, p.110. As passagens citadas pela autora são as de números_2 e 4 (V. infra). 4 “Suplemento Literário” do Estado de São Paulo n.360, ed. de 14-12-1963, apud CASTRO, Nei Leandro de. Universo e Vocabulário do Grande Sertão, p. 1 10). É CASTRO, Manuel Antônio de. O Homem Provisório no Grande Ser-T ão: um estudo de Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Brasília: INL, 1976, p.44. ROSA, Joao Guimaraes. Tutaméia - Terceiras Estórias. 2a. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, -p.~166. XVII décima edição do Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, de 1963, na qual o autor Aurelio Buarque de Hollanda Ferreira agradece a contribuição, em primeira instância, exatamente a João Guimarães Rosa.7 Incidências de nonada em Grande Sertão: Veredas 1) “- Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores do quintal, [...] Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente, [...]” (p.7) 2) .“A Nhorinhá - nas Aroeirinhas - filha de Ana Duzuza. Ah, não era rejeitã... Ela quis me salvar? De dentro das águas mais clareadas, aí tem um sapo roncador. Nonada! A mais, com aquela grandeza, a singeleza: Nhorinhá puta e bela. E ela rebrilhava, para mim, feito itamotinga. Uns talismãs.” (p.290) 3) “Atirei. Atiravam. “Isso não é isto? _ “Nonada.” (p.305) i 4) “E o mais - é peta - nonada.” (p.3~84) 5) “O senhor nonada conhece de mim; sabe o muito ou o pouco?” (p.556) 6) “Oi senhor é um homem soberano, circunspecto. Amigos somos. Nonada. O diabo não há! É o que digo, se for... Existe é homem humano. Travessia.” (p.568) 7 FERREIRA, Aurelio Buarque de Hollanda. Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguêsa. 10a. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963, p.XV. Walnice Galvão já o nota desde a nona edição, de 1951 (GALVÃO, Walnice Nogueira. As Formas do Falso: um estudo sobre a ambigüidade no Grande Sertão: Veredas. São Paulo: Perspectiva, 1972, p.73, nota 97). _ Ã XVI Contraposto a “muito” e a “pouco” (5), nonada não pode ser enxertado num dos lados do dilema “ser ou não ser”, mas, mais, é conjunto (água e sapo, por exemplo, em 2, representado por Nhorinhá, “sinhô e sinl1á”) ligado por uma relação (a amizade entre narrador e ouvinte, escritor e leitor). Por outro lado, é “peta” (4), é “isso” (3), “tiro” que não é “isto” (3), não é “de verdade” (1): primeira pessoa do verbo “tirar”: “eu tiro”. Assim, se nonada não é o mesmo que “nada”, também não é simplesmente “ser”. E se liga ao processo de subtração que tem como agente aquele que está falando. “Nada” é o Diabo, o puro mal, como Rosa revela em carta ao tradutor italianos No Grande Sertão: Veredas, aparece figurado no “escampo dos infernos” do Liso do Suçuarão, na baldada ,travessia de Medeiro Vaz: é “Nada, nada vezes, e o demo: esse, Liso do Suçuarão, é o mais longe - pra lá, pra lá, nos ermos. Se emenda com si me_smo.”9 O .Liso é menos que nada, é “nada vezes”, onde o segundo fator falta, nada multiplicado por uma ausência: é o demo, anagrama' de Medo, constante na raiz do nome do líder, cujo sobrenome encarna o Vazio. É não o Sertão, mas uma região desérticam ilimitada, i'\\ 8“Além disso, em NHÃ-Ã (nhã-ã, nhan-an) reluz o “esqueleto', oi substrato de nenhum, ninguém, etc, = isto é, o nada, a negação = o mal, o Diabo.”8 Carta. de 19-11-63. (BIZZARRI, Edoardo. J. Guimarães Rosa: correspondência com seu tradutor italiano. São Paulo: T. A. Queiroz; Instituto Cultural Italo-Brasileiro, 1980, p.54. Grifos de Rosa) 9 ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas, p.32. Francis Utéza lê, em “escampo”, a locução latina ex campus, “fora do espaço”. (UT EZA, Francis. João Guimarães Rosa: metafísica do Grande Sertão, Tradução de José Carlos Garbuglio. São Paulo: EDUSP, 1994, p.82) 1° “Você olha esse mundo aqui em abaixo, ó [as Companhias que tomaram o lugar das Fazendas de gado]. Que está destroçado aí, na beira dessas veredas. Onde tem água tem bateria cozinhando carvão, aquela confusão toda. Você olha esse azul aí fora... e pra todo lado aqui o tanto de Eucalipto que teml... Cobra pode ter alguma dentro dessa reserva. Mas dentro do Eucalipto nem cobra não fica. Nem cobra! Marimbondo, você pode andar o dia todo dentro do Eucalipto, você não encontra.” (Manuelzão, em entrevista de 1989, XV infinitan , seu “miolo mal”12. É o Não-Ser, como as Veredas Mortas, “lugar não onde”13. Em T utaméia, o Não-Ser surge, por exemplo, em “Hiato”14: é o touro” negro, “enorme e nada”, “impossível”, “total desforma”, que tira aos vaqueiros “qualquer espaço”. Touro cujos olhos são “os ocos da máscara”. O mesmo touro que é “Velho como o ser, odiador de almas”, onde odiador é tanto o touro como o ser: o Não-Ser é também Ser. transciita em BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Memória / Sertão: cenários, cenas, pessoas e gestos nos sertões de João Guimarães Rosa e de Manuelzão. São Paulo: Editorial Cone Sul; Editora UNIUBE, 1998, p.25l. Grifos nossos) U “Abismo horizontal”, segundo a expressão de Moacyr Laterza, recolhida em VIEGAS, Sônia Maria. O Universo Épico-Trágico do Grande Sertão: Veredas. Belo Horizonte: Laboratório de Estética da Faculdade de Filosofia e Ciências uploads/Litterature/ tutameia-indice-2.pdf

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