A ÉTICA DA HOSPITALIDADE OU O PORVIR DO COSMOPOLITISMO POR VIR (I.) FERNANDA BE
A ÉTICA DA HOSPITALIDADE OU O PORVIR DO COSMOPOLITISMO POR VIR (I.) FERNANDA BERNARDO A messianicidade: a propósito das cidades-refúgio, re-inventar a cidadania - no rastro de J. Derrida para o Fernando Belo Palavras-chave : Lévinas, Derrida, ética, desconstrução, hospitalidade, cidadania, cidades-refúgio, cosmopolitismo. Résumé : L'ethique de 1'hospitalité ou l' à-lenir du cosinopolitisine à venir s'écrit à la suite de I'expériencc de Ia traduction de Cosinopolhes de Laus les paus, encore ua efford de Jacques Devida. Tout en soulignant le registre "éthique" et "politique" de Ia déconstruction, on v cherche, dans cet éciit, à montrer deux choses: d'abord, (cfr. § 1. L'effort et la iúc/ie: une solidarité à inverter, § 2. L'éthique de /'hospitalité - une hospitalité inunédiate, inconditionnelle ei infinie et § 2.1. L'lias-ti- -pitalité: Ia limite ou Ia peivernhilité de l'(;lhique de 1'liospitalité, possible comine impossihle), que I'éthique, une étliique de /'hospitalité, réponse et exposition singulière et d'urgence à Ia venuc de qui vient et de ce qui vient, c'est le pas de Ia déconstruction denidienne, une pensée de I'événement ou de i'im-possihle. Ensuite, (cfr. § 3. L'éthique de /'hospitalité ou 1'à-venir du cosinopoliti_sme à venir), que cette hospitalité inconditionnelle ouverte à la venue du tout autre, c'est et Ia veille et I'à-venir même du cosmopolitisme. Du cosmopolitisme à venir. Dans son imminence et inconditionnalité, elle dois, cette hospitalité, ouvrir Ia souveraineté de l'hôte-citoyen, de Ia polis-cité, et veiller, par exemple, à Ia création des villes-refoges, désirable "modèle" des villes à venir. des messianicités, cfr. § 3.1. c'est- -à-dire, des "cités" ouvertes par l'autre à Ia venue de I'autre - l'avenir même. 1. O esforço e a tarefa : uma solidariedade por inventar «j'étais né [... 1 peut-être moins pour remettre de l'ordre que pour devenir la sentinelle d'un désordre» ' 1 J. Derrida, «Lettres sur un aveugle. Puncnun caecum» in J. Derrida, S. Fathy, Tourner les inots. Au bord d'un fibra, Galilée, Paris, 2000, p. 91. Revista Filosófica de Coimbra - n." 20 (2001 ) Pp. 333-426 334 Fernanda Bernardo Tentando, como se deve, na urgência, sem tempo e sem saber 2 respon- der às urgências que interpelam e ferem o horizonte do nosso tempo, assim procurando responder, testemunhando-a, pela sua responsabilidade de intelectuais 3 no turbulento palco do mundo, 1995 é o ano em que o Parlamento Internacional de Escritores, sediado em Estrasburgo 4 e de que Jacques Derrida era então um dos vice-presidentes, lança um apelo às cidades da Europa 5 a favor da constituição de uma rede de cidades-refúgio destinadas a acolher e proteger intelectuais perseguidos no seu próprio país. Em Março do ano seguinte tem lugar, no Conselho da Europa, em Estrasburgo, primeira cidade-refúgio europeia, o primeiro congresso das cidades-refúgio: impedido de estar presente , Derrida fará , porém , questão de enviar uma mensagem que será lida durante a sessão e que virá a dar lugar a mais um volume da sua extensa obra: Cosmopolites de tous les pays, encore mi effort! 6. A partir da figura das cidades-refúgio, uma figura que, como todas neste contexto teórico, se deseja singularmente exemplar, uma meditação sobre a cidade , (polis ), sobre a in-finita des-re-construção da sua soberania, põe aí em cena, como se de um parágrafo acrescido e um fio puxado ao escrito de 1985, «Les tours de Babel» 7, se tratasse, a 2 E é já a nossa questão, a questão do dever ou da ética por inventar, que se manifesta: com efeito, tal como ajusta , a decisão ética não espera . Exige uma tomada de decisão imediata , precipitada , sem saber ,...: « l'instant de Ia décision - diz Derrida - doit rester hétèrogène à tout savoir en tant que tel, à toute détermination théorique ou constative, même si elle peut et doit être précédée par coute Ia science et coute Ia conscience possibles», Derrida, Politiques de l'amitié, Galilée, Paris, 1994, p. 247. Para esta questão, nomeadamente, Lyotard, «Tombeau de I'intellectuel», Le Monde, 8 Oct. 1983 - texto incluído em Tontbeau de l'intellectuel et autres papiers ; Galilée , Paris; M. Blanchot, Les intellectuels eu question, Fourbis, Paris, 1996; Revista Lignes, «Les intellectuels, tentative de définition , par eux-mêmes », n° 32, Paris, ed . Hazan , Oct. 1997; J. Derrida, «'II courait mort': Salut, salto . Notes pour un courrier aux Temps Modernes» in Les Ternps Modernes, 51 ième année , Mars-Avril-Mai 1996, n° 587, p. 7-54; J. Derrida, E. Roudinesco , De quoi demain ..., Galilée/Fayard, Paris, 2001 , p. 11-40. 4 Parlement International des Écrivains , BP 13, 67068 Strasbourg , que, desde 2000, publica sob a direcção de Christian Salmon , e numa edição conjunta da Agra-Grécia/ /Anagrama -Espanha/Denoêl-França/Feltrinelli-Itália e Seven Stories Press-Estados Unidos, a revista Autodafe. 5 Em Portugal, será o Porto que, desde Dezembro de 1997, integra a rede de cidades- -refúgio : uma integração assinada pelo próprio J. Derrida, enquanto representante do PIE, por Fernando Gomes, à data , Presidente da Câmara do Porto e por Manuel Maria Carrilho, à data Ministro da Cultura. 6 Obra agora por mim traduzida na nossa língua e editada pela MinervaCoimbra, 2001. 7 J. Derrida , «Les tours de Babel» in Psyché - Inventions de l'autre, Galilée , Paris, p. 203-235. pp. 333 -426 Revista Filosófica de Coimbra - n.° 20 (2001) A ética da hospitalidade ou o porvir do cosmopolitismo por vir 335 desconstrução , sublinhando - lhe o seu imediato , e excepcional , recorte ético e político . De facto, este escrito é ao mesmo tempo um gesto teórico e um acto político que põe a nu a política e a concepção do político que, desde sempre , desde a sua primeira letra, desde o A mudo, secreto e tumular da différAnce, cultivando-se, a desconstrução derridiana cultiva. Cosmopolitas de todos os países, mais um esforço! é o acto político de um pensador atento 8 a, de um modo contido , é certo, mas veemente, marcar as suas intervenções no espaço público . Neste caso , a tomar posição a favor da criação de uma rede de cidades-refúgio como resposta imediata às formas inéditas de violência de que, à escala mundial, são hoje vítimas os intelectuais . A tomar posição a favor da sua criação mas, no mesmo lance, a imediatamente assinalar tanto a insuficiência como a dificuldade do espírito que, instituindo - as, nelas se cultiva à letra. Este escrito é por isso ao mesmo tempo também um gesto teórico: aquele que decorre naturalmente da singularidade do seu pensamento, um pensamento que se quer de guarda , de vigília, de sentinela , mas também da intervenção sempre excepcional que essa mesma singularidade exige : é, aliás, a singularidade do seu pensamento - a desconstrução é, notemos, um " Demonstrando através de uma exemplaridade admirável e sempre singular que, como bem diz F. Benslama, a desconstrução é «une pensée de I'expérience de Ia pensée comme événement», (cahiers Intersignes 13, automne, 1998, editorial. p. 10), refira-se que a preocupação política de J. Derrida - uma preocupação que subentende naturalmente um pensamento do político -, presente desde sempre na sua obra. se tem manifestado, sem, porém, de todo ceder às formas esteriotipadas do intelectual comprometido, em acon- tecimentos de que vale talvez a pena salientar alguns: nos anos 70. Derrida está na génese da formação do movimento do Greph, em tomo da questão do ensino da filosofia; em 1981, está na origem da fundação, com Jean Pierre Vernant e outros. da Associação Jean Huss de ajuda aos intelectuais checos dissidentes e perseguidos : será justamente no contexto da sua deslocação a Praga, a fim de animar um seminário clandestino, organizado por universitários saneados antes da «Revolução de Veludo». que Derrida será preso e conde- nado por tráfico de droga; está também na origem da Fundação, com outros, nomeada- mente F. Chãtelet, do Collège International de Philosophie: em 1983. participa na Fundação cultural contra o apartheid e no Comité de escritores para a defesa de Nelson Mandela: Pour Nelson Mandela. `Quinze écrivains saluent Nelson Mandela et le combat dont a vie porte témoignage', [Gallimard, Paris, 19861. Derrida participa com «Admiration de Nelson Mandela» - posteriormente incluído em Psvché, [Galilée, Paris, 1987, p. 453- -4751; em 1990 participa num colóquio sobre «L'identité culturelle européenne», de que sairá L'autre cap, [Minuit, Paris, 1991 ]: participa também no encontro, em 1988, com «Ittterpretations ai war», de intelectuais palestinianos em território ocupado; participa, em 1989, depois da queda do Muro de Berlim, num grupo de reflexão sobre este evento, a que se seguiu a segunda Década de Cerisy, em torno do seu trabalho, com o significativo título Le passage desfrontières [Galilée. Paris, 1993] e, no momento da proclamação do Revista Filosófica de Coimbra - it.' 20 (200/) pp. 333-426 336 Fernanda Bernardo pensamento da afirmação, do acontecimento 9 e do singular - que determina também a singularidade da sua actuação. Com efeito, cultivador do singular-exemplar 10, para Derrida cada caso é um caso: na sua urgência e complexidade, cada situação é única, cada intervenção é, deve ser, ela também, única 11: uploads/Philosophie/ a-etica-da-hospitalidade-i.pdf
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- Publié le Apv 12, 2022
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